sábado, 7 de setembro de 2013

Crítica: Alevanta Boi!

Foto: Beto Bocchino
A tradição do Boi de Mamão
Crítica de Humberto Giancristofaro para a peça Alevanta Boi!

A curadoria do III Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha conseguiu reunir uma diversidade de manifestações culturais nessa edição de 2013. Diferentes linguagens foram contempladas para retratar a profusão do que o Brasil oferece, de cenários modernistas paulista à estética da seca da Paraíba.

O espetáculo Alevanta Boi!, participante da mostra local do Festival é uma demonstração das raízes da cultura do litoral catarinense. O folclore do boi é muito presente nas tradições regionais Brasil a fora, recebendo particularidades de cada lugar e sendo chamado de diferentes maneiras: boi bumba, bumba meu boi e como é denominado em Santa Catarina, boi de mamão. Os folguedos dessa manifestação cultural remontam a artesania da colonização açoriana na região. Como toda boa tradição brasileira, mistura música, dança e velhas histórias, nesse caso, ao redor da morte e ressurreição do boi. O boi pode trazer o significado de parceiro de trabalho no campo, dele depende o sustento das famílias, fazendo da sua figura algo de extremamente importante para as economias de auto-sustentação. Além dele, outros dois personagens são cativos da história: o Pai Chico e Catirina. Ela, com desejos de grávida, pede ao Pai Chico que lhe consiga a língua do boi para comer, caso contrário seu filho irá nascer com a cara “lambida”. O coronel aparece como dono do boi e, sem saber o que aconteceu com ele, chama um pajé para voltá-lo à vida. O ciclo se fecha quando o pajé diagnostica que apenas os encantamentos de uma grávida alcançam tal intento. Catirina é então responsável pela morte e pela ressurreição do Boi.

A linguagem utilizada para a concepção dessa peça foge, porém, de um modelo clássico de folguedos de rua. Procurando se aproximar um pouco mais dos recursos contemporâneos, ela lança mão de um boneco narrador que conduz a carruagem. Isto lembra consideravelmente a forma como os programas infantis de televisão são apresentados e dá um charme à peça que ajuda a manter a atenção dos espectadores na história. Esse narrador estabelece um laço interno com o drama, uma vez que se apresenta como o filho de Catirina. Ele é considerado também irmão do Boi, pois foi a chama da sua vida que alimentou a ressurreição do bicho. Ambos seguem conectados até que a morte os separe. Outra forma de jogar com o folclórico e o moderno se apresenta na figura do pajé, caracterizado como um índio apache típico dos filmes de wester americano. Dessa forma o apelo aos poderes xâmanicos do índio aparentam ficar mais expressivos para as crianças, ao invés de um índio “comum”, igual ao que elas veem pelas ruas. E ao fim da apresentação, que é toda feita em um carro de boi, o bonequeiro assume o miolo do boi e termina dançando bumba meu boi.

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