quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Crítica: Mistérios de Elêusis

Fotos: SECOM/Itajaí - Jonnes David
A mitologia e o Lambe-Lambe
Por Mariana Barcelos

Os Lambe-Lambes na praça e o público que se posiciona em fila e sabe esperar. Em Itajaí a tradição se mantém. Na tarde do dia 02 de setembro, ao lado da Casa de Cultura Dide Brandão, os três caixeiros do teatro de animação Mistério de Elêusis se posicionaram com seus figurinos e caixas decoradas e deram início à apresentação. Alguns passantes perguntavam curiosos do que se tratava, e aguardavam na fila para descobrir o que era. O Lambe-Lambe tem este nome por inspiração nos fotógrafos lambe-lambe do início do século XX. O formato da caixa de apresentação se assemelha mesmo a uma grande câmera fotográfica , e de certo modo o que se vê é uma sucessão de fotografias animadas. A imagem é uma ligação que não se perdeu.

Os caixeiros, que manipulam e apresentam os episódios/cenas da história, deixam a mostra o laço que os une além da caixa: a luva. Por vezes a luva é um personagem, e nesta fábula, seus detalhes pretos em couro serviram bem à Hades, deus do mundo dos mortos. Os Mistérios de Elêusis fazem parte da mitologia grega, e consistiam em rituais que celebravam as deusas Deméter e Perséfone (mãe e filha). O laço parental era tão forte que, após o sequestro de Perséfone por Hades, a terra passa por bruscas transformações na geografia do tempo. Por meio da mediação de outros deuses junto a Hades fica estabelecido que Perséfone passará metade do ano com a mãe, metade no mundo dos mortos. Deste movimento de subir e descer nascem as estações do ano. Junto à mãe, na terra faz primavera e verão, quando com Hades, na terra tem o outono e o inverno. Na mitologia, a mudança do tempo é fruto do afeto.

E o Lambe-Lambe tem aqui esse lugar de um didatismo divertido , de falar da mitologia, e de unir duas tradições. As três caixas estão divididas em: O rapto; Hades; Perséfone. Cada caixinha apresenta um mini espetáculo de três minutos para um só espectador. A manipulação dos bonecos é feita em frente a uma projeção simples e poética que representa os lugares onde as personagens se encontram, ora terra, ora Hades. Na terra tem uma árvore, no Hades uma parede de pedra. As metáforas são objetivas e excluem a voz em off, a informação oral, no fone de ouvido dado ao espectador antes da apresentação o que se escuta é uma trilha sonora. A trilha é reiterativa do estado de ânimo de Perséfone entre a terra e o Hades, e mais tarde torna-se fundo musical das estações do ano.

As caixinhas têm alguns recursos tecnológicos, como o fone de ouvido, as projeções e alguns efeitos simulando focos de iluminação. A narrativa é construída principalmente por tais recursos, os bonecos (e a mão de Hades) formam um encanto a mais. É interessante porque as caixinhas estão em frequente transformação. Mas o que se revela, como filme de fotografia, por detrás do buraquinho pelo qual olha o espectador é algo de muito mais antigo e sem fim: o encontro com a curiosidade.

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