quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Crítica: Por que a gente não é assim? Ou Por Que a Gente é Assado?

Fotos: SECOM/Itajaí - Jonnes David
Baile de Máscaras de um Império em Ruínas
Crítica de Humberto Giancristofaro sobre a peça do Grupo Bagaceira, Fortaleza – CE.

Seguindo a sua linha provocativa, o Grupo Bagaceira, apresentou no III  Festival Nacional de Teatro Toni Cunha, a peça Por que a gente não é assim? Ou Por Que a Gente é Assado? Ela trata da experiência desafiadora de agarrar uma identidade em meio ao turbilhão da vida. Seus personagens, sempre fragmentados, descobrem a inviabilidade de se afirmar por uma característica essencial e, assim, se lançam num baile de máscaras e se confrontam com o eterno lema: “eu tô mudando”.

“Eu tô mudando” é uma condição de possibilidade do homem contemporâneo para se entender com a sociedade. As velocidades, as prioridades, os olhares, os recortes, etc. mudam tão vorazmente a cada instante que é impossível dizer, assim na lata, eu sou isso ou eu sou assado. A vida acontece à revelia e os acontecimentos, mesmo aqueles dos quais fazemos parte, escapam das nossas mãos o tempo todo. Como é o caso do personagem da peça que alcança a efêmera fama de artista da semana na internet com seu vídeo viral. Ele só não consegue descobrir, porém, qual é o conteúdo desse vídeo que alçou sua personalidade. O reconhecimento desse estado de mudança como projeto de vida é a grande força criativa/ criadora que desponta na nossa geração. Isso se dá exatamente por ir de encontro com ideais que exigem o atestamento de uma identidade própria (portar códigos de barras imutável) – veja o desconforto da parcela conservadora com aqueles que cobrem as caras nas manifestação, tentando apenas se salvar ou do gás lacrimogêneo do momento ou das câmaras de gás em que suas identidades serão enfiadas. A peça é um deboche às tentativas pueris de conter as aparições da mudança por meio de regras, rótulos, reuniões, agendas e consumos. Tudo na tentativa de tratar os indivíduos como multidão, ou massa de manobra, e encaixar a todos num curral.

O fato de essa peça acontecer na rua é especial. Ela explode para além da plateia e para além de um teatro e alcança os transeuntes, mesmo aqueles que recebem apenas um fragmento dela. Com um pedaço dessa arte, o transeunte-agora-espectador recebe mais uma referência em sua vida, só que esta é uma referência viral, no sentido de que ela serve para por em questão o que fazer com todas as outras referências que agarramos. O que fazer com todas as referências que são postas no nosso colo? Como devemos agir diante das novidades que ululam nos nossos celulares, tablets e gadgets sem fim? Quem devemos ser com tudo isso? Como formar um pensamento que se referencie a tudo isso que acontece? Por que a gente não é assim?... é uma peça que pede calma e oferece um olhar bem-humorado sobre essas exigências. Uma apologia ao always look the bright side of life dos nossos tempos.

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